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JOAQUIM CRUZ

Campeão olímpico, orgulho brasileiro nas pistas


Assessoria de Imprensa

Joaquim Carvalho Cruz

Data e local de nascimento: 12/3/1963, Taguatinga (DF)

Provas: 800 m e 1500 m

Principais conquistas: Medalha de ouro nos 800 m nos Jogos de Los Angeles-1984 e de prata nos 800 m nos Jogos de Seul-1988 medalha de bronze no Mundial de Helsinque-1983 medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis-1987 e Mar Del Plata-1995 nos 1.500 m.

Depoimento: "Nos últimos 120 metros, senti um arrepio enorme no corpo. Aquela sensação foi se intensificando, como se a pista estivesse se abrindo e as raias se transformassem numa só. Nos 90 metros finais eu consegui voar. Quando atravessei a linha de chegada agradeci a Deus. No pódio, a sensação era do dever cumprido e só quando cheguei em casa vi que era campeão olímpico."

 

Joaquim Cruz conquistou a medalha de ouro nos 800 m aos 21 anos. Na tarde quente do dia 6 de agosto de 1984, às 16:51, na pista do Memorial Coliseum de Los Angeles, nos Estados Unidos, o brasiliense entrou para a história. Com uniforme azul, na raia 6, com o número 93, dominou a prova desde o início do programa olímpico, com uma confiança impressionante. Além do ouro o seu tempo de 1:43.00 foi o recorde olímpico que vigorou por 12 anos.

Uma conquista que também é do treinador Luiz Alberto de Oliveira, único técnico de Joaquim no atletismo.

Joaquim entrou no ano olímpico já confiante por causa da medalha de bronze que havia ganhado no Mundial de Helsinque-1983, na Finlândia, depois de uma temporada em que venceu várias competições. Era terceiro no ranking mundial e pensou que se não se machucasse e fizesse uma boa base iria ganhar a Olimpíada. Sua autoconfiança foi aumentando nos treinos e foi alimentando o sentimento. O Nacional americano serviu de teste preparatório - venceu os 800 m e os 1.500 m, ajudando a equipe de Oregon.

Em Los Angeles, Joaquim ganhou todos os quatro 'tiros' que disputou em dias consecutivos, nas eliminatórias, semifinal e final. Passou por quatro dias de competições seguidos, sem descanso. Abriu correndo 1:45, no segundo dia baixou para 1:44 - não esperava, o objetivo era a liderança e o controle economizando energia. Na semifinal, estavam o queniano Peter Koech e o americano Earl Jones, que gostavam de correr na frente. Em segundo lugar controlando sua posição, sentiu tranquilidade, um controle enorme, um sentimento bom numa semifinal.

Usou o queniano como 'coelho' e quase no finalzinho, na última curva, viu Sebastian Coe assistindo a sua prova - era um fã dele, recordista mundial. Se arrepiou, entrou na reta, controlou a emoção e terminou a prova com 1:43.8. Tinha passado um tempão buscando o 1:43 e foi importante conseguir a marca na semifinal. A autoconfiança, após três dias competindo, ficou alta.

Na final precisava controlar a emoção, a mente. No Mundial de Helsinque passou a noite toda correndo na cabeça, não conseguiu descansar. Em Los Angeles, soube controlar a ansiedade e foi para a competição descansado. A outra preocupação era Sebastian Coe. Como tinha a estratégia de correr na frente tinha em mente que não poderia ser surpreendido. Foi usado como coelho por Coe e usou o queniano, que foi para frente, para controlar a prova. Conseguiu uma boa posição dentro da corrida dos 800 m ao ficar ao lado direito do queniano. A cada cinco passadas, olhava para a direita para vigiar Coe.

Deu tudo certo, cruzou na frente, venceu com superioridade. Derrotou o então recordista mundial Coe, que ficou com a prata (1:43:64). O norte-americano Earl Jones ficou com o bronze (1:43:83).

Deu um soco no ar, uma mensagem para o pai, um abraço em Luiz Alberto, que considera o seu segundo pai, e foi comemorar com uma pequena bandeira do Brasil. O seu síndico Bob havia comprado ingresso para a final dos 800 m, disse onde estaria no estádio, e era o portador da bandeira - "Passe para mim quando eu ganhar', era o combinado. A bandeira foi a forma que encontrou para dividir o momento com o povo brasileiro.

Também foi ajudado pelo bom nível técnico dos companheiros de treinamento. Treinou com Luiz Alberto num grupo que tinha também Agberto Guimarães e José Luiz Barbosa, o Zequinha.

Em agosto de 1984, venceu o Meeting Internacional de Colônia, na Alemanha, com 1:41.77, ficando a quatro centésimos do recorde mundial da época de Sebastian Coe. A marca é ainda recorde brasileiro e sul-americano dos 800 m.

Joaquim foi líder do ranking mundial de 1984 nos 800 m, assim como em 1985 - foi novamente o número 1 ao marcar 1:42.49, em 28 de agosto, em Koblenz, na Alemanha.

Joaquim tem duas medalhas olímpicas, a segunda delas de prata conquistada no dia 26 de setembro de 1988 nos Jogos de Seul. Chegou à capital sul-coreana como um dos favoritos ao título. E fez uma ótima prova, correndo com a inteligência de sempre e com mais experiência, aos 25 anos. Nos últimos 50 m, entretanto, quando liderava, foi ultrapassado pelo queniano Paul Ereng, mas chegou à frente do temido marroquino Said Aouita.

Comemorou a sua segunda medalha olímpica porque foi resultado de muita superação. De 1984 a 1988, teve vários problemas de saúde - fez duas cirurgias, uma de joelho e outra no tendão, e uma crise de alergia, do grau mais alto possível (acordava à noite sem poder respirar, estava asmático). Teve de sair de Eugene, no Oregon, e morar na costa por causa das alergias.

Em Seul, acabou desistindo dos 1.500 m. Além das dificuldades físicas viveu uma polêmica ao comentar sobre o físico, e possível doping, da velocista Florence Griffith Joyner e da heptatleta Jackie Joyner. O comentário, mesmo apoiado pela comunidade, acabou tirando o foco da competição.

Além do ouro e da prata nos 800 m em Olimpíadas, tem a medalha de bronze da primeira edição do Campeonato Mundial, tem dois ouros em Jogos Pan-Americanos - Indianápolis-1987 e Mar Del Plata-1995 - ambos nos 1.500 m.

Nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 foi o escolhido para ser o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, honra máxima pelos seus feitos na carreira.

O início - Filho de um marceneiro que deixou a cidade de Corrente, no Piauí, para ajudar a construir Brasília, em 1960, Joaquim gostava de jogar basquete na infância, mas foi convencido a praticar atletismo pelo professor Luiz Alberto de Oliveira. No início era resistente à ideia, mas depois que começou a obter bons resultados e a viajar resolveu apostar nas corridas.

Caçula de seis irmãos Joaquim mudou-se para os Estados Unidos em 1981, a convite do norte-americano Bob Taylent, para treinar na Universidade Brigham Young, na cidade de Provo, em Utah. Joaquim jogava basquete na escola do Sesi - conheceu Taylent numa clínica em Brasília.

Foi morar em Eugene, templo do atletismo mundial, contemplado com uma bolsa de estudos na Universidade do Oregon, nos Estados Unidos.

A mudança foi possível também porque no Troféu Brasil de Atletismo de 1981, no Estádio Célio de Barros, no Rio de Janeiro, bateu o recorde mundial sub-20 (juvenil) dos 800 m, com 1:44.3, na cronometragem manual, marca que vigorou por 16 anos. No mesmo ano, derrotou o astro cubano Alberto Juantorena na seletiva para a Copa do Mundo de Roma, na Itália.

Nos Estados Unidos, logo que chegou, passou por uma cirurgia para corrigir uma diferença de tamanho das pernas (a direita era dois centímetros mais curta do que a esquerda).

Em 1992 fez a sua oitava cirurgia. A primeira cirurgia foi em 1982, no pé direito, um período difícil porque tinha acabado de ir para os Estados Unidos - estava conhecendo a cidade, aprendendo inglês, ia entrar na escola, começar a estudar e precisava produzir resultados. Venceu as dificuldades, seguiu o seu caminho. As derrotas e os problemas fizeram parte e Joaquim soube vencer os desafios.

Parou de competir em 1997. Treinador da equipe de atletismo paralímpica dos Estados Unidos, Joaquim mora em San Diego, na Califórnia, com a mulher Mary Ellingson. Tem dois filhos: Kevin e Paulo. Ele é formado em Educação Física na Point Loma Nazarene College, de San Diego.