O Atletismo é chamado de esporte-base, pois sua prática corresponde aos movimentos naturais do homem. Falar de sua origem, portanto, é contar um pouco da história humana no planeta. De alguma forma, as competições nasceram das habilidades desenvolvidas por nossos ancestrais há milhares de anos. Afinal, antes de fabricar suas primeiras flechas, de aprender a nadar ou de montar em cavalos, o homem já corria, saltava obstáculos e lançava objetos. Era a dura luta pela sobrevivência. Também a simplicidade das regras explica a universalidade do Atletismo. Os resultados das competições são dados por medidas de tempo e distância. É campeão o mais rápido, quem dá o maior salto ou lança mais longe. Quando o homem começou a contar sua história, primeiro com a pintura rupestre nas cavernas, e depois com a escrita, apareceram as primeiras referências às competições. Há registros de disputas que remontam há, pelo menos, cinco mil anos. Na Grécia Antiga, os Jogos esportivos existiam três mil anos atrás, e quase sempre tinham base religiosa.
Havia quatro Jogos Pan-Helênicos que abrangiam todo o mundo grego: Jogos Olímpicos, Jogos Píticos, Jogos Nemeus e Jogos Ístmicos. Os mais famosos e importantes eram os Jogos Olímpicos, realizados na cidade de Olímpia. A primeira edição olímpica registrada é a de 776 a.C., quando uma única prova era disputada: uma corrida de cerca de 200 m, que os gregos chamavam de stadium. Nesse ano, a vitória foi de Koroebus, representante da cidade de Elis, e primeiro campeão olímpico conhecido da história. Outras provas atléticas – lançamento do disco, lançamento do dardo, salto em distância e pentatlo – entraram em seguida no programa. Bem mais tarde começaram as disputas de luta e as provas equestres.
Durante séculos apenas homens das cidades gregas competiam. Com a dominação romana, estes também passaram a competir. E o gosto romano passou a prevalecer. E as provas atléticas perderam a primazia para as lutas e as disputas equestres. Já em nossa era, com a oficialização do cristianismo como a religião do Império por Constantino, os Jogos Olímpicos foram considerados uma festa pagã. Nessa época (século IV dC), o prestígio do evento caíra muito. Assim, a história praticamente não registra reação quando os Jogos foram proibidos por um decreto do imperador Teodósio, em 393 da nossa era. O próprio Império Romano vivia seus últimos tempos no Ocidente.
Já a prática esportiva, sem a organização de antes, continuou de maneira esparsa no período medieval. Com o Renascimento, no século XV, voltou o interesse pela cultura greco-romana. Surgem, então, as sociedades de ensino e prática esportiva. Mas é apenas no século XIX que o esporte assume um lugar de destaque na sociedade moderna. A maioria das modalidades – caso do Atletismo – ganhou seu formato atual na Inglaterra. É nesse ambiente que nasce em 1863, na França Pierre de Fredy – que entrou na história como Barão de Coubertin. Filho de família rica, ligada às artes, ele tornou-se pedagogo e recebeu do Governo francês a incumbência de desenvolver um programa para as escolas do país. O jovem educador teve conhecimento do trabalho de Ernst Curtius e das ideias de Thomas Arnold, que sugeria: “É preciso instruir e educar, mas sobretudo é importante treinar o corpo e o espírito.” Coubertin visitou a Inglaterra e os Estados Unidos, em busca de diferentes modelos de ensino. Antenado à educação e ao esporte, Coubertin viu florescerem as corridas de campo (cross country) e eventos de pista e campo: corridas, saltos e lançamentos, inclusive com disputas profissionais. Ele conheceu também organizadores de festivais olímpicos, como William P. Brookes, na Inglaterra, e Evangelis Zappas, na própria Grécia. Por isso, não surpreende que tenha se tornado o grande animador pela retomada do Movimento Olímpico.
O Movimento Olímpico e seu principal articulador Pierre de Coubertin chegam a um grande momento em 1894, quando, com delegados de vários países, é um dos fundadores do Comitê Olímpico Internacional (COI). O Congresso ainda elegeu Atenas como sede dos Jogos da Primeira Olimpíada Moderna, e definiu a competição para 1896. A escolha da capital da Grécia estava carregada de simbolismo, pois a retomada dos Jogos aconteceria na pátria-mãe dos Jogos Antigos. O encontro de 1894 aconteceu no prédio da Sorbonne, sede da Universidade de Paris. Coubertin foi escolhido secretário-geral e a presidência ficou para o grego Dimitrios Bikelas.
O mundo evidentemente mudou em 15 séculos, da proibição dos Jogos Antigos por Teodósio em 393 até 1896, ano da Primeira Olimpíada Moderna. O homem mudou, assim como o seu jeito de fazer esporte. Uma situação, porém, permaneceu: a hegemonia do Atletismo, confirmado como o esporte olímpico número 1. Afinal, quase um terço dos 313 atletas que participaram dos Jogos de Atenas competiu no torneio de Atletismo. Dois fatos destes Jogos de 1896 corroboram a visão sobre a hegemonia dos eventos atléticos:
Foram nomes do Atletismo, aliás, que dominaram os corações e mentes dos esportistas que acompanharam as adições dos Jogos antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O norte-americano (filho de índios) Jim Thorpe ganhou o pentatlo e o decatlo em Estocolmo 1912. Na premiação ganhou do rei da Suécia o elogio: “O senhor é o maior atleta do mundo”. Acusado de profissionalismo, Thorpe perdeu suas medalhas, que apenas em 1972 foram devolvidas a seus descendentes. O finlandês Paavo Nurmi dominou os pódios dos Jogos de Antuérpia 1920, Paris 1924 e Amsterdã 1928. Em sua carreira, ele ganhou nove medalhas de ouro em Olimpíadas e bateu 29 recordes mundiais em todas as distâncias, dos 1.500 m aos 10.000 m. Finalmente, o negro Jesse Owens, dos Estados Unidos, ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos de Berlim 1936, desmontando o mito da superioridade ariana.
O Atletismo moderno ganhou muitos adeptos na Inglaterra, seu país de origem, nos Estados Unidos e na maioria das nações da Europa. Aos poucos, sua pátria chegou a todos os continentes. No século XIX havia competições regulares, com atletas amadores e profissionais. A volta dos Jogos, no entanto, fez prevalecer o estatuto amador que dominou o ambiente oficial dos esportes olímpicos boa parte do século XX.
A fundação da IAAF (atual World Athletics) durante a Olimpíada de Estocolmo, em 1912, por 17 países foi importante para o desenvolvimento do esporte. As regras do Atletismo foram escritas e as listas de recordes ganharam credibilidade. Cem anos depois, em 2012, as federações nacionais filiadas à IAAF eram 212.
No Atletismo são com cerca de dois mil participantes. As mulheres estrearam nos Jogos de Amsterdã 1928. Tudo isso fez o COI decidir que o Atletismo é a modalidade número 1 dos Jogos e que as Olimpíadas podem ser feitas apenas com ele, nunca sem ele.
O ATLETISMO NO BRASIL
No Brasil, o Atletismo começa nas últimas décadas do século 19. Nos anos 1880, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, anunciava resultados de competições na cidade. Nas três primeiras décadas do século 20, a prática atlética foi consolidada no País. Em 1914, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) filiou-se à IAAF. Em 1924, o País participou pela primeira vez do torneio olímpico, ao mandar uma equipe aos Jogos de Paris, na França. No ano seguinte, em 1925, foi instituído o Campeonato Brasileiro.
Em 1931, a seleção nacional começou a participar dos Campeonatos Sul-Americanos. Em 1932, Clovis Rapozo (oitavo no salto em distância) e Lúcio de Castro (sexto no salto com vara) chegaram às finais nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos estados Unidos. Quatro anos depois, Sylvio de Magalhães Padilha foi o quinto nos 400 m com barreiras nos Jogos de Berlim, na Alemanha.
Em 1952, nos Jogos de Helsinque, na Finlândia, Adhemar Ferreira da Silva conquistou a medalha de ouro no salto triplo, em 23 de julho, três dias depois de José Telles da Conceição ganhar a de bronze no salto em altura. Eram as primeiras das 19 medalhas olímpicas ganhas pelo Atletismo brasileiro até hoje. Adhemar foi o primeiro dos grandes triplistas brasileiros, a subir ao pódio olímpico e a estabelecer recordes mundiais na prova. Ele foi bicampeão quatro anos depois, em Melbourne, na Austrália. Depois, Nelson Prudêncio ganhou prata e bronze, e João Carlos de Oliveira, duas de bronze.
Os Jogos Pan-Americanos foram disputados pela primeira vez em Buenos Aires, na Argentina, em 1951. O atleta com mais títulos ganhos no PAN é João Carlos de Oliveira, com dois ouros no triplo e dois no salto em distância, nos Jogos do México em 1975 e de Porto Rico, quatro anos depois. Claudinei Quirino é um dos grandes destaques da história dos Jogos, com cinco medalhas conquistadas no total – sendo três de ouro, uma de prata e uma de bronze. Claudinei é o único brasileiro a ganhar quatro medalhas em uma mesma edição dos Jogos: em Winnipeg em 1999, no Canadá, quando ganhou ouro nos 200 m e no 4x100 m, prata no 4x400 m e bronze nos 100 m. Em Santo Domingo, em 2003, ganhou ouro no 4x100 m.
Maurren Maggi foi a primeira mulher brasileira campeã olímpica em esportes individuais. Venceu o salto em distância nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
Thiago Braz deu ao Brasil a medalha de ouro no salto com vara nos Jogos do Rio, em 2016, na primeira Olimpíada realizada na América do Sul.
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